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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Arte é dinheiro mas até quando?

A arte é uma indústria multimilionária. Não é raro um quadro custar tanto como um Boeing.
Os analistas dizem que há no mundo 25 mil milhões de euros à espera de ser investidos e que a arte é um dos seus destinos certos. Leilões fizeram de 2006 um ano de sucesso, com muitos coleccionadores mistério e dinheiro vindo da Rússia, da China e do Médio Oriente. Será que o mercado se vai manter em alta? Até quando? Por Lucinda Canelas

Em 2006 o mercado da arte continuou a crescer. Klimt e Pollock bateram recordes, os magnatas russos e asiáticos invadiram como nunca as salas das grandes leiloeiras e não se limitaram a comprar Picassos e ovos Fabergé.
Nos leilões das estrelas - Van Gogh, Rothko e Kooning - não é raro um quadro custar tanto como um Boeing ou um apartamento em Park Avenue. Este ano, apenas numa noite, a Christie"s, uma das maiores empresas de leilões do mundo, fez o melhor resultado de sempre, ao vender 78 lotes por 384 milhões de euros. A sua rival, a Sotheby"s, fez o melhor leilão dos últimos 16 anos (184 milhões de euros).
A provar que quem vende está onde há dinheiro, as leiloeiras abriram escritórios no Dubai e em Moscovo e, apesar de dizerem que é impossível saber quanto vale o negócio da arte (fala-se em mais de 22 mil milhões de euros), estão optimistas - vai crescer.
Mas, entre os analistas, há quem ache que este boom, semelhante ao dos anos 80, não está para durar. Será que o mercado está prestes a entrar em colapso? Será que este crescimento se vai manter apenas enquanto durar o apetite - e o dinheiro - dos novos coleccionadores (ver texto ao lado)?
Lisa King, directora internacional da Christie"s, disse ao jornal britânico The Times que, ao contrário dos picos de vendas das décadas de 80 e 90 - impressionistas comprados por empresas japonesas -, o actual boom não depende apenas de uma categoria ou período artístico. "Todas as categorias vendem bem e a distribuição geográfica dos compradores é muito maior do que no passado", explicou. "Estamos a assistir a boas vendas no topo do mercado, mas também nos níveis intermédios. É por causa desta ampla distribuição de forças que estamos confiantes que o mercado continue forte."
Muitos dos coleccionadores que hoje inflacionam os preços vêm da Rússia, China e Médio Oriente, dizem os analistas, com um poder de compra reforçado pelo constante aumento do preço do petróleo. "Há uma grande riqueza nos mercados emergentes", diz King, que está a preparar um leilão para Janeiro no Dubai.
Os especialistas garantem que a indústria da arte, como as outras, é cíclica e que começará a decair, mas não estão de acordo em relação ao quando.
Os mais optimistas acreditam que a dispersão geográfica dos compradores e a sua diversidade de interesses vai manter o mercado em alta. Os pessimistas asseguram que a queda não tarda e que vai começar pela arte contemporânea, dominada por especuladores. Quem tem razão?

Recordes atrás de recordes
De Xangai a Nova Iorque, passando por Tóquio, Moscovo e Londres, o ano de 2006 bateu recordes de vendas no mercado da arte, que beneficiou de uma conjugação de factores: obras de grande qualidade para vender e milionários ávidos de comprar. "Os novos compradores da China e da Rússia adquiriram recentemente muitos dos ícones do pós-Guerra", disse ao diário alemão Der Spiegel Tobias Meyer, um dos principais leiloeiros da Sotheby"s. "Eles estão a levar os lanços cada vez mais alto e continuarão a fazê-lo."
Depois de comprarem iates e casas em todo o mundo, os milionários russos invadem os leilões para adquirir peças para as decorarem, o que não agrada aos coleccionadores tradicionais, nem a alguns artistas. Fazem parte de uma nova geração que gosta de exibir as suas colecções, um pouco à semelhança das estrelas. Com o jet set a comprar, "o mercado da arte faz hoje parte da indústria do entretenimento", diz o pintor Gerhard Richter.
Essa indústria está a ser alimentada pela arte confiscada pelos nazis e que agora está a ser reclamada pelos herdeiros dos proprietários legítimos e a atingir preços altíssimos. Adele Bloch-Bauer I, de Gustav Klimt, vendido em leilão por cerca de 103 milhões de euros, é disso exemplo. Os analistas estimam que a arte por restituir nas colecções dos museus valha 19 mil milhões de euros.
Dora Maar com Gato, de Picasso, comprado por 72,5 milhões de euros, foi outra das estrelas nos leilões do ano. Com os Klimt e os Picasso a desaparecer do mercado a curto prazo, os novos "clássicos" estão a atingir preços até aqui inimagináveis: No.5, 1948, de Jackson Pollock, o mais caro do ano, chegou aos 106,6 milhões de euros, e Woman III, de Willem de Kooning, aos 104,7 milhões. Em breve, garantem os observadores, Damien Hirst e Jeff Koons subirão ao pódio. Um quadro de Pollock, que na década de 90 seria vendido por 8,3 milhões de euros, hoje custa mais de 83 milhões.
"O negócio é, sem sombra de dúvida, cíclico", disse ao Times o presidente da Christie"s no Reino Unido, Mark Poltimore. "Mas há novos mercados, como a Rússia, que ainda agora começaram. O mercado chinês de arte contemporânea está a disparar. Estas áreas continuarão a crescer durante algum tempo e nos mercados tradicionais as obras de topo vão vender-se sempre bem." Philip Hook, director do departamento de arte moderna da Sotheby"s, concorda. "Estamos mais confiantes na solidez do mercado", disse à Reuters.
Para os multimilionários que hoje dominam o mercado, a arte não é só um investimento - é uma declaração de poder, um bilhete de entrada no círculo restrito dos grandes coleccionadores internacionais que lhes poderá dar acesso a novos contactos que mais tarde beneficiarão os seus negócios. A velha máxima de que dinheiro gera dinheiro serve na perfeição o mundo da arte. 

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